Impacto das condições ambientais dos viteleiros na predisposição de doença respiratória bovina

2021-01-08T10:56:05+00:008 de Janeiro, 2021|

No âmbito do estágio realizado no Departamento Veterinário da Proleite, pela estagiária  de Medicina Veterinária, Rita Silva sob o tema “Impacto das condições ambientais dos viteleiros na predisposição de doença respiratória bovina”, obtiveram-se as seguintes conclusões:

A DRB continua entre as causas mais frequentes de morte em vitelos, principalmente antes do desmame e os animais que resistem à doença têm desempenhos fracos na vida adulta.

A caracterização do ambiente dos viteleiros (Fig.1) pode ser uma ferramenta chave na prevenção não só de problemas respiratórios como também de diarreias, ambos comuns entre os vitelos. As características do ambiente em que o vitelo se encontra influenciam diretamente a sua saúde e devem ser avaliados fatores como clima, temperatura, presença de poeiras, densidade populacional, humidade e ventilação.

Figura 1 – Características avaliadas no viteleiro

A ventilação tem como funções primordiais a eliminação de gases nocivos, correntes de ar e ar estagnado e a diminuição dos níveis de endotoxinas e microrganismos patogénicos do ar e poeiras.

Para assegurar que a ventilação é feita corretamente, o edifício deve ser projetado de modo a permitir a circulação do ar a uma velocidade adequada, removendo as partículas indesejadas e o excesso de calor ou vapor de água (Figura 2). Esta velocidade não deve atingir os 0.5 m/s, valor a partir do qual já é considerado uma corrente de ar, prejudicial ao animal.

Figura 2 – Circulação de ar no alojamento

Para evitar as correntes de ar ao nível dos animais, o produtor pode optar por algumas estratégias tais como: adicionar uma cobertura na zona inferior da entrada do edifício, se esta estiver aberta na direção dos ventos prevalentes; assegurar que toda a cama dos vitelos está coberta pelo material utilizado, evitando as correntes de ar em superfícies com ripas; adicionar materiais como fardos de palha ou telas em alojamentos de elevadas dimensões.

O trabalho desenvolvido teve como objetivo a avaliação e caracterização das condições ambientais nos viteleiros das explorações visitadas.

Os resultados obtidos permitiram concluir que independentemente do tipo de alojamento escolhido pelo produtor, o método mais adequado na prevenção da DRB tem de incluir o aporte de quantidades suficientes de energia (quer pelo maneio correto do colostro, quer pela alimentação na fase posterior), o acesso a uma zona de descanso seca e com a profundidade adequada a cada época e um ambiente livre de correntes de ar. O desenvolvimento deste estudo permitiu concluir que, a dificuldade em assegurar valores de velocidade do ar que permitam a ventilação correta do espaço diz respeito não só à presença de correntes de ar ao nível dos animais em alguns alojamentos, como à ausência de circulação de ar noutros.

Aliada a medidas de prevenção no desenho das instalações está a deteção precoce de animais suspeitos de DRB. A implementação de um sistema de classificação que permita a identificação precoce destes animais como o que foi utilizado neste estudo, facilita o diagnóstico e evita que este seja tardio e acarrete por isso um maior número de consequências (Figura 4). Sistemas como estes deveriam ser introduzidos na rotina diária da pessoa responsável pelos vitelos, por forma a melhorar o desempenho da exploração.

Figura 4 – Avaliação da DR através de um sistema de pontos (adaptado de Young 2012)

A avaliação das camas é um ponto chave na prevenção de DRB e a Universidade do Wisconsin desenvolveu um sistema de pontuação que o faz em função da capacidade do vitelo se “aninhar”, denominado “Nesting score” (NS). A pontuação é atribuída após um exame visual que pontua a visibilidade dos membros posteriores do vitelo quando deitado e pode ser de um, dois ou três. O NS (Figura 5) é um quando a perna inteira está visível, adequado apenas no tempo quente; se a parte inferior da perna estiver coberta e o membro apenas parcialmente visível a pontuação é de dois, adequada no tempo frio se em conjunto com um casaco; o mais adequado para o Inverno é uma pontuação três, em que a cama cobre a totalidade das pernas.

Figura 3 – Nesting score (adaptado de Nordlund e Halbach 2019)